sexta-feira, 19 de abril de 2013

Rendilhado de Palavras

Fecho os olhos e procuro ver-me através do espelho da mente. Como se de olhos abertos procurasse, no reflexo que me é dado, a essência daquilo que sou, a ilusão daquilo que fui e a incerteza daquilo que serei num dia que ainda está por vir.
 
Abro os olhos e o que ficou da procura que empreendi é um esboço vazio de importância. Porque o que sou deixei de o ser no exacto momento em que dei por terminada a procura, o que fui continua diluído na essência daquilo que sou e o que serei é um condicionalismo indefinido do que vou vivendo a cada passo que dou.
 
No pensamento que fica, na memória que escapa e no acto contínuo que me vai prendendo aqui onde estou, pouco ou nada faz sentido.
 
O que me passa pela cabeça e vou tentando transpor para o papel é um amontoado de palavras que mais não são do que uma combinação desconexa de sons de imagens que transmitem pouco ou nada daquilo que sinto com os pensamentos que fluem demasiado velozes.
 
Acção mecânica. Sem sentido. Sem sentir. Apenas e só porque acho que devo ocupar-me com algo mais. Mas mais o quê?
 
Tentar dar nexo a pensamentos dormentes e sem nexo é um exercício que me ocupa o tempo, mas que, ao mesmo tempo, me rouba o tempo que preciso para sentir e interagir, verdadeiramente, com o que está à minha volta. Estranhamente cansa-me o espírito e incapacita-me o físico, pela quebra dos laços afectivos trazidos pela ausência do sentir.
 
Paralisia. Suicídio. Morte. Assassínio. Seja o que for que diga que faz com que tenha deixado de sentir é algo que está para além da inexpressividade dos sentimentos e muito aquém da necessidade dos sentidos.
 
A antecipação do toque. Repulsa.
 
O cruzar de olhares. Insulto.
 
O prenúncio do olfato. Asfixia.
 
A expressão da fala. Falácia.
 
Preferível é manter vestido o manto da invisibilidade. Permanecer no conforto de não ser visto. De não ser tocado. De não ser sentido. Resguardar-me da ânsia dos sentidos que é facilmente ampliada com o convívio.
 
Deixem-me estar no sossego de onde estou, como estou e com quem não estou. Assim como deixo passar em branco as folhas de papel que teimam em ser tingidas pelas canetas que estão aprisionadas na minha mão em cada visita guiada ao tampo da minha secretária.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Uma Aventura nas Compras

No fim-de-semana que passou fui tentar comprar um vestido. Entrei na loja X*, provei um tamanho S, mas não comprei. Ficava ligeiramente largo.

Acabei por ir à loja Y*, onde encontrei um vestido com o mesmo corte. Fui experimentar o S, não consegui fazê-lo passar para além de debaixo dos braços e ainda estive cerca de 5 minutos a debater-me para conseguir despi-lo.

Como me deu tanto trabalho, resolvi também dar algum trabalho à empregada da loja e pedi que me trouxesse o tamanho acima. Foi mais fácil de vestir, apesar de difícil de apertar. Ou seja, até que cabia dentro do M, mas tinha a pretenção de conseguir, no mínimo, respirar e, no máximo, fazer mais do que brincar ao homem-estátua com ele vestido.

Fascinada com o rumo que esta aventura estava a levar, voltei a pedir o auxílio da empregada da loja que, muito atenciosamente, trouxe-me o tamanho maior que fazem do vestido. Passei a experimentar o L. Milagre dos milagres! Já conseguia mexer-me e respirar. Pena mesmo é que para usar o vestido teria que fazer arranjos consideráveis da cintura para cima.

Demasiado trabalhoso, pensei. Mas fiquei uns minutos a olhar-me ao espelho do provador, ainda com o vestido vestido, a ponderar o que seria melhor: mandar apertar o vestido ou fazer uns implantes mamários para precaver situações futuras. Claro está que não consegui decidir-me. Por isso vesti-me e deixei o vestido com a empregada, que o recebeu com enorme satisfação, que se intensificou ainda mais quando eu disse que não o ia levar.

Ao sair da loja cheguei a uma conclusão, ao estilo de teoria da conspiração: o vestido em questão só pode ser uma prova de desgaste psicológico, imposta por quem dita as tendências de moda da loja Y, para nos fazer sentir complexadas com as nossas medidas. Isso ou enganaram-se nos moldes e puseram na secção de senhoras roupa da secção de meninas entre os 10 e os 12 anos.

Posto isto, dei por terminada a minha procura e fui fazer um almoço mega calórico para ver se conseguia ter uma verdadeira razão para me sentir gorda. Fiquei frustrada, porque a excessiva ingestão de calorias e a aventura na Loja Y não trouxeram este resultado. Salvou-me da frustração total ter trazido da loja X um top.
 
 
*Se me pagassem para fazer publicidade até que podia pensar em dizer
 os nomes destas duas conhecidas cadeias de lojas. Mas tenho a certeza que são
 poucas as meninas que não conseguem acertar, pelo menos, no nome da loja Y.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Devaneios

Estou a precisar de um tema, de uma motivação, de uma vontade e de um à vontade.
 
Sei que é muito para o tão pouco de que preciso realizar: escrever - algo que, ao que me parece, deixei se saber (ou querer) fazer.
 
Pode ser que quando eu deixar de precisar de tanto ou tudo deixar de fazer sentido, o tema, a motivação, a vontade e o à vontade surjam naturalmente e transformem-se em tão pouco para o muito que hei-de escrever.