quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dos Pastéis de Belém aos Acasos que Levam aos Azares

Há uns dias, depois de um belo almoço entre amigos, cerca das cinco da tarde, tiveram a brilhante ideia de ir lanchar aos Pastéis de Belém (ideia que não é má, já que Belém até é agradável e os Pastéis comem-se).

Imagem retirada e adaptada daqui
Esqueceram-se foi de três pormenores que iriam tornar a concretização desta ideia em algo no mínimo insuportável:

- Era uma tarde de domingo;
- Estava sol;
- E a temperatura estava bastante elevada para a época do ano.

Ou seja, estavam reunidas as três condições para, nessa mesma hora, a população de meia Lisboa e dos arredores estar concentrada aí (a outra metade estaria com toda a certeza na zona oriental de Lisboa) e, muito provavelmente, também a pensar em fazer o mesmo lanche.

Eu, como vivo pelas redondezas e conheço relativamente bem os ciclos de movimento da zona, prontamente tentei chamar-lhes à razão para estes pormenores, mas infelizmente não os dissuadi e lá fomos, porque não podia ser assim tão mau (lá estás tu com os teus exageros, disse-me um).

Claro está que quando lá chegámos estava montando o caos, quer na fila para a compra ao balcão, quer para o serviço de mesa. Os meus amigos ficaram todos muito desgostosos e enquanto eles perdiam-se em lamúrias, eu entrei noutro comprimento de onda e apanhei do ar uma conversa telefónica, meio surreal, de uma miúda que se já tivesse chegado à casa dos 20 seria muito.

Pelo que percebi, a conversa rodava à volta da questão de ser ou não ser pertinente apresentar aos pais um 'ele', o qual poderia ser um namorado recente ou um amigo colorido. Em qualquer dos casos seria um ele para ocupar os tempos mortos e desenvolver a perícia sexual.

Esta última frase é pura conclusão minha e tem, exclusivamente, a ver com o que ouvi a miúda dizer e que passo a citar:

- Ele? Só o apresentava aos meus pais se, por acaso, me engravidasse e
se, por azar, eu descobrisse fora de tempo para poder abortar.

É sabido que um dos poucos métodos contraceptivos em que é garantida 100% de eficácia é a abstinência. Mas dada a dificuldade em seguir este caminho, quando se busca a satisfação a dois, há muita escolha no mercado que reduz significativamente estes "acasos" que se podem traduzir nestes "azares". Sendo que na minha opinião, apesar de consagrada na lei, a interrupção voluntária da gravidez não é, nem deve ser usada com este intuito.

Ao ouvi-la lembrei-me de alguém que, como não tinha paciência para a toma diária da pílula e o respectivo namorado também não a tinha para o preservativo, usava e abusava da pílula do dia seguinte.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dia que Marca

O dia 23 de Janeiro traz-me sempre à memória outros tempos em que a casa de família ficava cheia.

Era dia de celebrar o aniversário do meu pai, da minha tia L, da minha avó e do meu avô Pú, sempre em conjunto.

O uso do passado é propositado, pois a partir do ano 2000 passou a ser o aniversário do meu pai e da tia L e de 2007 em diante passou a ser, exclusivamente, o aniversário do meu pai.

O meu pai, hoje, só está a comemorar 60 primaveras e pela filosofia que tem da vida pretende ficar por cá muitos mais anos. Já que enquanto pode anda, no mínimo, um passo à frente da morte, aproveitando cada dia como lhe apetece. Apesar desta corrida ter sempre o mesmo vencedor, diz que a temos que tornar única, esticando-a o mais que conseguirmos. Visto passarmos mais tempo mortos do que vivos, afiança ele, não custa nada lutarmos para ter mais uns créditos e nos mantermos em jogo do lado que conhecemos mesmo com as amarguras que este lado também traz.

Eu só posso torcer que para assim seja, já que quando entro nestas memórias há uma contradição de sentimentos que me invade e me leva do riso ao choro em menos de nada.

Sinto alegria por todos os que se ausentaram terem feito parte do melhor do meu passado.

Alegro-me com a recordação dos cheiros, dos sons e de toda a azáfama da preparação que envolvia este dia: a confecção da comida, a escolha do repertório musical e a organização da casa, que passava por desmontar algumas divisões para apoiarem a cozinha e a sala de jantar, de modo a haver espaço e áreas distintas para todos comerem, conversarem e dançarem.

Alegro-me com a recordação da expectativa e ansiedade vividas enquanto via os convidados chegar, sentirem-se bem recebidos e, por isso, à vontade para passarem um bom bocado.

Alegro-me com a recordação do prazer sentido por todos que já no final da festa, mesmo cansados, ainda arranjavam forças para agradecer esta partilha com calorosos elogios, abraços beijos e apertos de mão.

Mas também sinto a tristeza pela saudade e pelo vazio deixado por os saber fisicamente inacessíveis e ausentes.

Entristeço-me pela falta que sinto do meu avô Pú que, embora não partilhasse laços de sangue comigo, com a minha irmã e os meus primos, tinha o maior orgulho no papel que teve na criação dos seus 6 netos, orgulho esse também por nós partilhado já que tivemos a oportunidade de o amar como o avô que verdadeiramente foi e ter a nossa infância devidamente documentada nos seus inúmeros registos fotográficos.

Entristeço-me pela falta que sinto da força e também do carinho da minha avó, que liderava a família com firmeza não deixando ninguém sair da linha, principalmente os netos e os 2 rapazes (filhos de amigas de infância) que acolheu e criou como seus filhos. A todos nós, sem excepção, ensinou a cuidar de uma casa. Aos rapazes a saberem respeitar e tratar como iguais as mulheres. Às raparigas a darem-se valor e a saberem que merecem o respeito de qualquer homem.

Entristeço-me pela falta que sinto da forma fácil como a minha tia L cativava-nos com a sua ligeireza em encarar a vida como uma viagem em que devemos partilhar o que de melhor temos e tentar tirar lições que permitam tornar positivos os espinhos que nos são apresentados.

Recordando-me das despedidas que tive de cada um, sinto sempre o coração apertado. Dizer adeus, sabendo-o definitivo dói.

Do meu avô Pú despedi-me na visita que lhe fiz no Lar, poucos dias depois de ele ter sido submetido a uma cirurgia simples, que tinha tudo para correr bem, mas não correu. Apesar do sorriso de orgulho que transpareceu nos seus olhos (um azul e outro cinza) quando me viu, notei que lhes faltou o brilho que costumavam passar quando expressavam este sentimento. No seu lugar estava a opacidade característica de quem já baixou os braços à vida. Em menos de uma semana, numa tarde de finais de Novembro de 1999, acabou por partir.

Da minha avó, apesar das visitas quase diárias que lhe fazia, a despedida foi bem mais cedo do que a data da sua partida, nos inícios de Dezembro de 1999. Infelizmente, o tal do Alzheimer obriga-nos sempre a perder em vida aqueles que amamos e que nunca pensámos que pudessem deixar de nos amar, devido a uma "simples" quebra no circuito que os liga à realidade.

Da minha Tia L foi tudo muito à pressa para quem ficou, ela já tinha tudo preparado para este momento que estava prestes a chegar, há muito que sabia o que tinha, mas escondeu de todos o seu cancro e a sua recusa de toda e qualquer forma de tratamento. Eu apenas tive tempo de, numa visita que lhe fiz ao hospital, 'ralhar' com ela (para não chorar), perguntando-lhe porque estava ela a reescrever a história que nós as duas tínhamos planeado para a sua velhice. Ela sorriu, respondendo-me que, não sendo tão linear como a pretendemos, a vida prega-nos estas partidas. E esta aconteceu em pleno domingo de Carnaval de 2006.

Mas como o dia de hoje é para celebrar a vida volto a recordar o meu avô Pú, a minha avó e a minha tia L como realmente foram:

A minha avó como uma mulher poderosa e sempre bonita, pronta para fazer surgir um sorriso fácil quando a objectiva de uma máquina fotográfica apontava na sua direcção, ao mesmo tempo que contava as histórias da vida na ilha antes da vinda para a metrópole e espalhava pelo ar o seu cheiro a caramelo, frutos secos e manteiga de tantos bolos de casamento e aniversários feitos.

O meu avô Pú no seu estilo clássico. Camisa impecavelmente vestida, acompanhada por um nó de gravata executado na perfeição e um cabelo exaustivamente bem penteado. E isso mesmo que fosse para se enfiar na sala com as aparelhagens e colunas que desmontava para melhorar a qualidade do som dos milhentos discos que por elas passavam, para assistir aos seus programas da vida selvagem na televisão, para ler o simpósio médico ou para ir à cata das folhas de babosa (mais conhecidas por aloe vera) para acalmar a sua pele demasiado sensível à luz.

A minha tia L de braços abertos para ajudar o próximo, a promover o convívio e a união familiar. Aproveitando o seu tempo para estar umas horas perdida entre a sua paixão pelos livros e entre as conversas sobre muitas das viagem que fez pelo mundo (já que conseguiu por acasos da vida passar por quase todos os continentes) ou a escolha dos nomes a dar aos filhos que eu, a minha irmã e os meus primos iremos ter.  Para além de ser a excelente anfitriã, que sem qualquer pudor, abria a porta da casa e convidava todos a irem-se embora, porque já era hora de dormirmos dormir.

Assim, consigo imaginar que se os três pudessem estar hoje a celebrar os 82, 93 e 71 anos, respectivamente, ainda teriam a mesma pedalada que o meu pai tem para nunca deixar passar em branco mais um ano de vida reunindo todos aqueles que vão dando sentido e alimentando a esperança que é a chama da vida.

E no fundo sempre estão, porque ano após anos neste dia, quando a família se junta, são sempre carinhosamente lembrados.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Do Teu Toque*

A antecipação do teu toque na minha pele surpreeende-me ao causar-me arrepios que despertam recordações de outros toques, os quais me apuram o olfacto, dilatam os olhos e humedecem os lábios.

O cheiro que te sinto alimenta o brilho que transborda do meu olhar e desenha-me na boca um sorriso de luxúria e desejo.

Mas a realização do teu toque na minha pele é sempre mais. Mais vibrante, mais estimulante, mais urgente, mais possessiva e mais arrepiante (do que as recordações de outros toques e da antecipação do teu toque).

E é nesta realização que, sem surpresas, surge uma nova vaga de arrepios... Desta feita partilhados pelos toques por nós trocados.



* Devaneio perdido nos rascunhos 
e que estaria no seguimento deste

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Quiquices

"Afinal quem não tem, ou conhece alguém, com uma “gaveta das bolachas”?"

Pergunta a Quiqui que oferece aos gulosos, que não dispensam pelo menos uma (à hora do chá, do café e da laranjada), a oportunidade de dar umas trincas caseiras bem doces.


Aproveitem já que, até as más línguas, comprovam que são Tentações de trincar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Conta-me Como Foi

Como se diz, e bem, uma mesma história, tem no mínimo tantas versões quanto o número de pessoas que nela intervierem.


Da Frontalidade dos Mais Velhos


A propósito da frontalidade contemporânea relatada AQUI, em que me ofereci para relatar "uma ou outra história de comportamentos frontais dos mais velhos neste mesmo registo" e uma vez que esta oferta foi aceite. Aqui vão elas (só espero que correspondam às expectativas).


HISTÓRIA 1 - Entre Pais e Filhos

O top da To Do List de uma amiga (para além dos clássicos plantar uma árvore e escrever um livro) é ser mãe. Toda a família dela sabe disso e muitas vezes é o tema das conversas nos almoços domingueiros em que se juntam todos (o pai, a mãe, os padrastos, os irmãos, os tios e os avós)., já que para além de serem muitos, são bastantes interventivos na vida e nas decisões uns dos outros.

Os planos do quando e do como há muito que estão traçados, havendo duas possibilidades para o projecto ser concretizado. E agora que a idade por ela definida como limite está a aproximar-se, o pêndulo está cada vez mais inclinado para o cenário que sempre gerou mais controvérsia. Já que ela, de momento, não tem uma relação e não conta que em breve isso possa acontecer.

Os dois planos que ela vem organizando têm em conta dois possíveis cenários:

Cenário A - Ter uma relação;
Cenário B - Não ter uma relação.

O Cenário A sempre reuniu o consenso geral da família e não faz qualquer diferença que a concepção seja realizada no clássico estilo missionário ou num mais exuberante proporcionado pelo Kama Sutra e pela imaginação dos intervenientes.

O Cenário B é que tem feito surgir as conversas mais absurdas, porque em família não pode deixar de haver frontalidade.

Assim, não havendo relação, o método de concepção será a inseminação artificial com doador anónimo (pois neste cenário ela prefere uma produção independente).

Ao pai e a um dos padrastos faz-lhes confusão o doador anónimo. Por isso, já apresentaram várias listas de amigos que estariam dispostos a serem-no, já que querem ser pais. A lista até vem com os predicados que justificam a escolha de X, Y e Z.

À mãe tudo neste cenário não faz sentido, já tendo esgotado todas as justificações para as objecções que tem.

A última de todas, foi a que bateu para lá do fundo da absurdidade e aconteceu quando em mais um almoço domingueiro, a avó pediu que lhe relembrassem os nomes escolhidos para o seu futuro bisneto.

Neste dia a mãe da minha amiga atingiu o seu limite, tendo entrado numa conversa com ela no mínimo macabra, no intermédio sarcástica e no máximo caustica.

Mãe - Acha mesmo que eu vou ter um neto chamado Francisco Frasquinho ou uma neta chamada Mariana Pipeta?

Filha - Frasquinho e Pipeta? O que quer dizer com isso?

Mãe - Sim, já que é nisso que se resume a inseminação, o apelido da parte do pai será um destes dois.

Filha - Oh mãe, francamente! Um filho meu irá ser sempre seu neto e basta-lhe o meu apelido.

Mãe - Filha, a sério, se quer mesmo ter um filho e encontrar uma relação está a ser difícil... Olhe, vá à rua escolha qualquer homem, mesmo que estafermo, e leve-o para a cama. Mais vale isso a um Frasquinho ou a uma Pipeta.


HISTÓRIA 2 - Entre namorados

Tenho um amigo que está em crise de meia idade, desde que chegou aos 35 e soube que a ex-mulher já se tinha orientado na vida.

Agora, quase a chegar aos 40 (que é aquela idade em que aos olhos dele deixas de conseguir fazer tudo, porque já estás a caminhar para senil) a crise tem-se intensificado. Até porque ora encontra-se sozinho, ora arranja uma relação que dura pouco mais do que 3 meses, quase sempre porque as miúdas que ele arranja ainda não têm independência financeira (rondam os 20 e poucos anos) e, assim, não conseguem acompanhar o estilo de vida dele, que lhe permite outras liberdades.

Claro está que, como qualquer homem em crise de meia idade, ele idealizou, ao nível físico, a mulher que procura para companheira e durante os últimos anos é isso que tem vindo a fazer (supostamente é um homem de relações, não consegue estar sozinho).

Esta mulher tem que ser loira, olhos claros (preferencialmente azuis), com corpo perfeito e não ter mais do que 33 anos e não consegue deixar de perseguir este registo de mulher.

Acontece que há uns 9 meses apaixonou-se e começou a namorar com uma mulher de olhos claros (mas não azuis), cabelo castanho claro (ou loiro escuro como ele gosta de afirmar), mas que não encaixa no seu ideal de mulher por dois motivos: não tem um corpo perfeito e tem mais do que 33 anos.

Na sua frontalidade moderna (ou ausência de inteligência emocional) resolveu dizer-lhe isso mesmo e, de uma forma pouco subtil, começou a controlar o que ela come.

Ela, fruto da idade e de se aceitar como é, acabou por levar esta história do ideal de mulher na brincadeira, até quando começaram as conversas sobre a possibilidade de irem morar juntos.

Nesta fase, ele entrou em conflito interno e ficou bastante hesitante. Ela ao aperceber-se disso perguntou se estariam a ir demasiado depressa. Ele disse que não, estava só meio confuso. E ela perguntou confuso em relação a quê.

Resposta dele: Confuso em relação a ti. Gosto de ti como não me recordo de gostar de alguém, fazes-me bem, temos um bom entendimento a vários níveis. Mas no meu ideal físico de mulher és um quase: quase loira, quase magra e tens quase olhos azuis. E está a ser difícil não dar importância a isso.

Está comprovado que a frontalidade contemporânea pode não escolher idades?

domingo, 15 de janeiro de 2012

Das Relações

Foto de Erik Johansson retirada daqui 
Desde que terminou a febre das festas e entrámos na "boring season" que é o mês de Janeiro, dei-me conta que as conversas que apanho do ar de completos desconhecidos e as que amigos e conhecidos vêem partilhando comigo giram em torno do mesmo tema, as relações afectivas.

De todas estas conversas, em que se esmiúçam sentimentos e se debatem pontos de vista do que deve ser e o que é estar numa relação, acabo quase sempre por chegar à mesma conclusão: Quase ninguém se sente bem no estágio em que se encontra.

E isto acontece independentemente de estarem ou não a viver uma relação. De estarem em procura activa e desesperada ou a aguardar passivamente.

As causas deste mal-estar?

Atribuo-as a algo bem simples. À total incapacidade que muitos de nós temos em estar sozinhos e de não nos sabermos bastar a nós próprios para estarmos de bem com a vida.

Há uma enorme necessidade de buscarmos validação num outro e, pelo que está culturalmente enraizado e socialmente imposto, através de uma relação teremos isso.

E pela pressão que esta 'lei' transmite, muitos de nós acabamos por entrar numa busca incessante por alguém que nos satisfaça (e que grande parte das vezes também procura satisfazer) esta vontade egoísta de não estar só.

Só que o egoísmo só tem em conta a satisfação do eu.

Por conseguinte, basear uma relação nessa premissa é permitir, a curto prazo, que a mesma deixe de ser afectiva e passe a ser conveniente. Já que, depois de passar a novidade inicial da paixão, cada um só se vai lembrando de alimentar o seu eu, seguindo exclusivamente as suas próprias vontades, e vai-se esquecendo que tem de ter tempo e dar espaço para alimentar e fazer crescer o nós. Que, só por acaso, é o pilar que dá longevidade e torna funcional uma relação a dois. Mas isso dá trabalho.

Na falta de convergência de vontades e do nós, o dia-a-dia passa a ser um permanente braço-de-ferro de imposição de vontades, em que cada um assume-se perante o outro como seu proprietário e, como tal, não vê motivos para ceder nem para abdicar de seja o que for. Este constante esgrimir desgasta psicologicamente, cansa fisicamente e maltratando a relação.

Toda esta conjugação de factores traz o mal-estar que vamos revelando em desabafos encriptados entre os amigos, já que no seio da relação assumir isso é tornar-se o elo mais fraco, aquele que não aguenta viver na ilusão do está tudo bem. 

Mas alguém que tente perguntar porque há esta insistência em viver relações nas quais não se busca a confiança, o entendimento e a partilha de afectos, mas sim a mentira, a guerrilha chantagista e a conquista de poder. As respostas vão variar entre "Ah... O que tem de mal, são turras de amor? É mesmo assim e antes isso do que ficar sozinho" e "Estava farto de estar sozinho, por isso meti-me nisso".

O que é triste, já que os de nós que acabam por seguir por este caminho vão deixando de lado os afectos e cada vez mais procuram as conveniências (quer sejam os acomodados que mantêm a relação porque dá trabalho recomeçar, quer sejam os pinga-amor que saltam de relação em relação e o que lhes interessa é alimentar a paixão fácil).

A meu ver, abandonar os afectos é virar costas a nós mesmos, é deixar de nos vermos e assim de nos conhecermos. É deixar de conseguir conviver positivamente com a única pessoa que nos vai acompanhar, com toda a certeza, ao longo da vida.

Como é que sem esta capacidade de sabermos estar sozinhos, sermos positivos e crermos em nós, teimamos em acreditar que podemos dar e receber isso de outro?

Porque por conveniência assumimos um compromisso de convivência diária, apenas e só para não estarmos sós? Sendo esta miudeza o máximo que sabemos e temos para dar, mas pretendendo que nos dêem tudo o resto que não temos nem sabemos dar.

É isso que se espera de uma relação dita moderna que me leva a estar sossegada no meu canto.

sábado, 14 de janeiro de 2012

É Só Um Pequeno Desabafo

De há uma semana para cá, ando a tentar escrever sobre um fenómeno (poderá ser mais uma coincidência) com que me tenho reparado desde o início deste ano, que ainda vai curto, e que me tem melindrado, quer por ser uma interveniente directa ou acidental.

A chatice é que não tenho tido disponibilidade mental e discernimento criativo para escrever a coisa como eu quero. Ando a roubar horas ao sono, a aproveitar alguns tempos mortos no trabalho, as viagens atribuladas de autocarro (imaginem-se a escrever sentados num veículo que anda aos solavancos devido ao mau estado das estradas para perceberem ao ponto que já vai o meu desespero), parte da minha hora de jantar e até mesmo as curtas  pausas para um cigarro.

Mas todo este meu esforço não tem servido para nada. Não consigo dar uma ordem coerente a tudo o que tenho a escrever e à ideia/opinião que quero transmitir. E deteste isso!

No que respeita à escrita, para além da ser completamente indisciplina, sou de impulsos. Se há vontade, escrevo (e se necessário fico horas a fio nisso). Se não há vontade e nada do que escrever, não escrevo. Nem sequer me lembro de pegar numa folha de papel (sim, eu sou da velha guarda que gosta de olhar para uma folha em branco e escrever até ganhar calo no dedo que apoia a caneta).

Já escrevi, reescrevi, voltei a escrever o reescrito e voltei a reescrever o escrito reescrito (complexo, eu sei) e não sai nada parecido com o que projectei mentalmente.

E se não sai à primeira, conhecendo-me como me conheço, tenho quase a certeza de como esta história vai acabar, principalmente porque sei que estou prestes a atingir aquele ponto. Sim, aquele em que pego em todas as folhas rabiscadas e atiro-as para dentro de uma gaveta à espera de um outro dia. Este outro dia é que, por norma, nunca mais vem ou se vier já é fora do tempo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Há Melhor...

Do que começar uma segunda-feira com esta obrigação?


Vou ali e já venho, mas lá para depois do pôr-do-sol.


Para primeiro post de 2012 não está nada mau :)