segunda-feira, 12 de março de 2012

Resposta a Dúvidas Existenciais

Há pouco, por mera curiosidade, estive a ver as estatísticas semanais das visitas aqui ao Blog.

Quando cheguei à parte das palavras-chave usadas nas pesquisas deparei-me com isso:

“que fazer numa viagem de autocarro”.


Assim, perante esta dúvida existencial de grande importância vou deixar algumas das coisas que eu faço e julgo poderem ser feitas por qualquer um que ande de autocarro.

Por norma, tendo em conta que no último ano tenho andado quase sempre na mesma carreira, fora das horas de ponta e, principalmente, à noite, depois de entrar e validar o passe (algo que quase mais ninguém faz a essa hora), começo por:
1- tentar escolher o lugar ideal para me sentar, sem incomodar ninguém nem ser incomodada. 
2- enquanto vou a fazer este pequeno percurso estou quase sempre a rezar para  não ser projectada até ao local escolhido (ao invés de ir pelos meus próprios passos). Sim, os motoristas da noite são aceleras de primeira.

Quando devidamente sentada, no caso de ter sido projectada até lá, faço por procurar por:
3- vermelhões,
4- nódoas negras,
5- arranhões e
6- ferimentos graves.

Não encontrando nada disso, dedico-me a fazer o mesmo que faço quando chego ao meu lugar pelos meus próprios passos:

7-  ligo o som do meu MP3 (quando a cabeça não pede silêncio),
8- pego no livro que quase sempre viaja na minha mala (se a preguiça não me levar à inércia e falta de concentração para leituras),
9- de quando em vez passo uma vista de olhos pelo telemóvel a ver se alguém quis saber de mim, quer via SMS, chamada, Emails ou Livro das Fuças (isso se os solavancos do autocarro me deixarem desenhar o padrão de desbloqueio do telemóvel sem errar e bloqueá-lo por excesso de tentativas mal sucedidas) ou
10- simplesmente, fico a olhar para o vidro a ver o caminho de regresso a casa, que me vai dando a perceber que se transforma em mais um dia que passou (à velocidade que o autocarro anda, quase sempre só me apercebo das sombras e dos clarões amarelos que iluminam a cidade noite fora).

Para 15 a 20 minutos de viagem, a meu ver, é actividade mais do que suficiente para ocupar o tempo.


Mas de quando em vez (quase sempre aos fins de semana, feriados e noites de futebol) as opções possíveis são péssimas, como:
11-  ter que ouvir conversas entre terceiros e músicas alheias já que anda por aí uma geração que não sabe o que são uns headphones (quase sempre a conversa é da treta, dado o adiantado da hora e dos temas abordados e a música é péssima quer pela qualidade do som, quer pelo estilo),
12- levar com putos aos berros já meio grogues com o vinho que vão bebendo do pacote ou transformado em sangria em garrafas de litro e meio de água, para além, da garrafa de litro da cerveja partilhada por 10 ou 20 (nestes momentos sinto-me numa taberna à moda antiga, com bancadas pegajosas do vinho, do bagaço e da cerveja que entranharam ao longo dos anos),
13- ver miúdas praticamente despidas e maquilhadas como se fossem para o ataque, mesmo com temperaturas abaixo dos 10 graus (depois acabo por descobrir que vão só ter com uns amigos que conheceram na noite e que todo este excesso se deve ao facto de terem estado horas a vestir-se para aparecerem despidas).

Nestes dias a viagem parece demorar o dobro do tempo, com tanto entra e  sai.


Mas como nem tudo pode ser negro neste de quando em vez, também há as boas opções:

14- conseguir fazer a viagem do princípio ao fim, como único passageiro (as noites de 2º feira de frio e de chuva são propícias a isso),
15- encontrar o motorista jeitoso com o qual até dá para ter uma conversa descontraída e despretensiosa, que sabe as horas a que saio, ao ponto de conseguir atrasar-se, por ter o ‘azar’ de apanhar os sinais todos vermelhos, e chegar à minha paragem já comigo lá (mesmo não sabendo o nome um do outro conseguimos manter-nos num tu cá tu lá, que estando inspirados até pode cair num inocente jogo de flirt ou ficar por adivinhar a figura que vai entrar a seguir conforme o dia da semana e a hora).

Aqui a viagem parece que acaba logo que começa, já que parece feita numa velocidade supersónica, em que não damos pelo tempo passar.


Esta semana de trabalho, tirando hoje que foi dia de seca por não ter conseguido sair a horas, teve quase de tudo um pouco. Apenas faltou ser o único passageiro, a música alheia e os putos da vinhaça (sendo que os dois últimos por razões óbvias não me fizeram nenhuma falta).

Espero que alguma das opções por aqui deixadas sirva para o próximo que vier cá parar com a mesma grande dúvida existencial.

4 comentários:

  1. Deve ter havido uma telepatia qualquer por aqui, pois na madrugada de domingo foi dia para eu apanhar um desses autocarros, mais concretamente o 205 rumo a casa (pelas 4.30ham), após uma noite regada, digamos. Só os uso praí de 3 em 3 meses, mais coisa menos coisa e digo-te... vi coisas assustadoras, muitas dessas semelhantes às tuas visões, e andasse eu mais pre-disposto à escrita de partilha do que ando ultimamente, teria postado algo semelhante ainda ontem.

    De qualquer maneira frequentá-los durante a semana durante o dia nada tem haver com o frequenta-los durante as madrugadas de fim-de-semana.

    Um dia destes.

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  2. Martini,

    Se eu tivesse em modo de partilha mais avançada, muito tinha para contar das minhas viagens de autocarro. Antigamente, quando tinha um horário que me permitia não ser a única pessoa a usar a paragem, muito relato fiz por aqui de conversas perdidas, interacções e abordagens que ocorriam comigo ou entre terceiros.

    Este relato que parece gigante, mas que a meu ver até se lê em 3 tempos, é uma ínfima parte do que já apanhei por esta carreira, que faz parte da rede regular, e só o escrevi por causa da consulta que fiz às estatísticas aqui do espaço, algo ao qual não ligo muito. Mas pode ser que tenha havido alguma transmissão de pensamentos entre nós e deu nisso :)

    Tendo em conta o 'andamento' que tenho em autocarros, claro que sei que conforme a hora, o dia da semana e a época do ano (para não falar da origem e do destino do autocarro) o seu público varia bastante e, para quem gosta, as esperas e as viagens podem dar origem a inúmeras histórias.

    Daí que, em conversa com os motoristas, eu conseguia fazê-los lembrar dos passageiros regulares conforme a semana vai avançando (que como é óbvio nem sempre se lembram porque não fazem sempre o mesmo horário ou a mesma carreira), bem como dizer-lhes os dias em que sei que vão passar mais cedo ou mais tarde do horário previsto.

    A carreira da rede da Madrugada, que também me servia para chegar a casa, era a melhor de todas durante a semana. Tinha sempre muito menos gente do que a carreira da rede regular, porque fazia um percurso mais curto. Pena mesmo, foi ter sido uma das carreiras suprimidas no início deste mês.

    Mas vê lá se o teu "um dia destes" não se fica por isso mesmo, vai lá ao armário buscar a predisposição para a escrita para nos indo dando os teus ecos :)

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  3. Hihi, o que se descobre!
    Beijinhos

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  4. Sofia,

    É verdade e, acho até que, quando é sem se procurar acaba por ser mais divertido :)

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