É engraçado a facilidade com que as pessoas nos atribuem rótulos sem, primeiro, ter o cuidado ou a intenção de querer saber alguma coisa sobre nós.
Não é por acaso que se diz que só temos uma oportunidade para causar uma boa primeira impressão.
Olham-nos e em apenas alguns segundos já nos radiografaram e rotularam, arquivando-nos numa prateleira de um dos muitos compartimentos existentes no seu cérebro.
Está feito. Já estamos catalogados, de acordo com os elevados padrões de exigência e qualidade que cada um reconhece como legítimos e verdadeiros.
Os critérios que justificam esta avaliação, quase sempre hostil e quase nunca verdadeira, são vários, têm a ver com a realidade que cada um conhece e experimentou e são fruto de uma visão limitada, já que têm na sua génese:
- Preconceitos;
- Imposições sociais, políticas, religiosas, raciais;
- Frustrações e medos pessoais;
- Ignorância, etc., etc., etc.…
É algo que nos tira do sério, que nos irrita, que nos deixa desmotivados, mas ao qual, com o tempo, nos vamos habituando, aprendendo (ou não?!?) a lidar e a ignorar e acabando por lhe atribuir a importância devida (nenhuma?!?).
Esta conversa toda porque?
Há umas semanas, a caminho do trabalho, enquanto aguardava uma oportunidade para atravessar a rua ganhei um novo rótulo de três indivíduos que se encontravam no interior de um carro.
No curto espaço de tempo em que o sinal está vermelho tanto para os carros como para os peões, esta tripla entrou em crise existencial e começou a discutir entre eles.
Apanhei a conversa quando eles já estavam tão exaltados que nem o facto de estar com os ouvidos ocupados pela música que saía do meu mp3 me impediu de olhar para ver o que se passava. O motivo da discussão: eu e o meu tom de pele.
ELE 1 - Ela é preta ou é branca?
ELE 2 - Deve ser uma branca que tem a mania que é preta.
ELE 3 - Na, deve ser uma preta que tem a mania que é branca.
A crise durou pouco tempo, já que quando o sinal abriu e o carro arrancou gritaram pela janela:
ELE 1, 2, e 3 - OH PRETA, DEVES TER A MANIA QUE ÉS BRANCA!!!
E pronto, catalogar os outros pode ser um acto rápido, fácil e inconsequente, mas também cruel e despropositado.
Para não ficarem baralhados aqui fica uma breve descrição minha:
Feições algo exóticas, fruto de um olhar com corte asiático, de um cabelo castanho escuro liso e escorrido, de uns lábios que quase se enquadram no para lá de carnudos, de uma anca com muito de africana e, claro está, de um tom de pele que para mim, no Inverno, é amarelo deslavado (pareço doente) e, no Verão, caramelo achocolatado (ando inspirada), os vulgarmente chamados moreno e bronzeado. Ah! É verdade, sou descendente de africanos.
Por isso, no mundo dos que vêem a vida a dois tons (preto e branco), é provável não haver espaço para mim.
Temos pena!