Tenho um colega de trabalho que desde que soube o meu destino de férias que mais não faz do que tentar boicotar o meu entusiasmo e descontracção.
Já tentou de tudo para ver se me deixa ansiosa ou preocupada. Todo o santo dia aborda-me para partilhar uma má experiência ou um preconceito vivido na primeira pessoa ou por terceiros seus conhecidos.
As formas preferidas de começar os seus monólogos (porque diálogos já deixaram de ser há muito, visto que de momento só oiço uma espécie de zumbido a sair da boca dele) são:
- Oh, Gira! Cuidado com...
- Oh, Gira! Só espero que não te aconteça...
- Oh Gira! A ver se não tens o mesmo azar do...
Após verificar a total ausência de reacção da minha parte, termina as suas histórias com:
- Sim, porque os alemães isso...
- Não, porque os alemães aquilo...
- Talvez, porque os alemães aqueloutro...
Como não há duas sem três e três foi a conta que o homem desfez, o terminar que nunca lhe falha nestes monólogos é:
- Pois, porque os alemães são racistas e xenófobos... (pausa dramática para garantir que conquista a minha atenção e gera alguma preocupação) Mas, oh Gira!, não te deves preocupar com a cor da tua pele porque és portuguesa e eles embirram mais com quem "vem de fora" (as aspas foram colocadas gestualmente por ele para deixar à minha inteligência ou ignorância espaço para interpretar da maneira que achar melhor).
Já tentou de tudo para ver se me deixa ansiosa ou preocupada. Todo o santo dia aborda-me para partilhar uma má experiência ou um preconceito vivido na primeira pessoa ou por terceiros seus conhecidos.
As formas preferidas de começar os seus monólogos (porque diálogos já deixaram de ser há muito, visto que de momento só oiço uma espécie de zumbido a sair da boca dele) são:
- Oh, Gira! Cuidado com...
- Oh, Gira! Só espero que não te aconteça...
- Oh Gira! A ver se não tens o mesmo azar do...
Após verificar a total ausência de reacção da minha parte, termina as suas histórias com:
- Sim, porque os alemães isso...
- Não, porque os alemães aquilo...
- Talvez, porque os alemães aqueloutro...
Como não há duas sem três e três foi a conta que o homem desfez, o terminar que nunca lhe falha nestes monólogos é:
- Pois, porque os alemães são racistas e xenófobos... (pausa dramática para garantir que conquista a minha atenção e gera alguma preocupação) Mas, oh Gira!, não te deves preocupar com a cor da tua pele porque és portuguesa e eles embirram mais com quem "vem de fora" (as aspas foram colocadas gestualmente por ele para deixar à minha inteligência ou ignorância espaço para interpretar da maneira que achar melhor).
As primeiras duas vezes que lhe saiu esta pérola deixei cair. Fingi que não percebi e respirei fundo em sinal de cansaço e resignação.
À terceira vez enchi o saco e não houve tempo sequer para ele terminar a sua lenga-lenga (já que nestas coisas não sou de desfazer contas, mas sim de à-primeira-caio-porque-não-sei, à-segunda-porque-não-aprendi e à-terceira-cairia-se-fosse-burra, algo que raramente sou).
Vai daí, tive que lhe dizer, calmamente (mas à bruta), que comportamentos e abordagens racistas/xenófobos, infelizmente, já os senti na pele, em Portugal, por esta Europa fora e nos países de quem "vem de fora". Sendo que aos conhecidos ou desconhecidos seus protagonistas, dada a sua ignorância (porque não vejo outra classificação possível a dar-lhes), atribui-lhes quase sempre a importância devida. Isto é, nenhuma.
Preocupações deste género com a minha cor de pele não as tenho (quer dizer, tento protegê-la do sol e do frio). Já lá vão 34 anos e uns meses de convívio diário com ela, o que é tempo mais do que suficiente para a ter como um dado adquirido, sem preconceitos e complexos (Ah! E espero continuar assim por mais uns largos pares de anos).
No caso do meu colega, que convive comigo a titulo exclusivamente profissional há coisa de 9 meses e não conhece nem metade da pessoa que sou, se o incómodo e preocupação que revela não estão relacionados com racismo (como ele fez questão de frisar depois de me ouvir despejar o saco), só me leva a concluir que ele está a torcer para que esta viagem me corra pessimamente ou que me tem como alguém que não sabe quem é.
E para ele ou para qualquer outra pessoa que se cruze na minha vida com preocupações da treta desta natureza, só tenho uma coisa mais a acrescentar: Se não conseguem ver-me para além deste detalhe larguem-me de mão e sigam as vossas vidas, preferencialmente longe de mim.
Eu sei perfeitamente quem sou e de onde venho, como também sei que aos olhos de pretos, brancos amarelos ou verdes apresento-me como um desafio ao nível da rotulagem padrão que cada um tem. E, felizmente, convivo com amigos e conhecidos que, tal como eu, tiveram a sorte de ter pais e familiares que lhes incutiram valores e lhes passaram uma educação suficientemente positivos para verem e estarem comigo e com os outros por aquilo que eles são e não por um pormenor físico, racial ou material.
Posto isto, vou fazer as malas porque agora é que o meu entusiasmo está ao rubro.
À terceira vez enchi o saco e não houve tempo sequer para ele terminar a sua lenga-lenga (já que nestas coisas não sou de desfazer contas, mas sim de à-primeira-caio-porque-não-sei, à-segunda-porque-não-aprendi e à-terceira-cairia-se-fosse-burra, algo que raramente sou).
Vai daí, tive que lhe dizer, calmamente (mas à bruta), que comportamentos e abordagens racistas/xenófobos, infelizmente, já os senti na pele, em Portugal, por esta Europa fora e nos países de quem "vem de fora". Sendo que aos conhecidos ou desconhecidos seus protagonistas, dada a sua ignorância (porque não vejo outra classificação possível a dar-lhes), atribui-lhes quase sempre a importância devida. Isto é, nenhuma.
Preocupações deste género com a minha cor de pele não as tenho (quer dizer, tento protegê-la do sol e do frio). Já lá vão 34 anos e uns meses de convívio diário com ela, o que é tempo mais do que suficiente para a ter como um dado adquirido, sem preconceitos e complexos (Ah! E espero continuar assim por mais uns largos pares de anos).
No caso do meu colega, que convive comigo a titulo exclusivamente profissional há coisa de 9 meses e não conhece nem metade da pessoa que sou, se o incómodo e preocupação que revela não estão relacionados com racismo (como ele fez questão de frisar depois de me ouvir despejar o saco), só me leva a concluir que ele está a torcer para que esta viagem me corra pessimamente ou que me tem como alguém que não sabe quem é.
E para ele ou para qualquer outra pessoa que se cruze na minha vida com preocupações da treta desta natureza, só tenho uma coisa mais a acrescentar: Se não conseguem ver-me para além deste detalhe larguem-me de mão e sigam as vossas vidas, preferencialmente longe de mim.
Eu sei perfeitamente quem sou e de onde venho, como também sei que aos olhos de pretos, brancos amarelos ou verdes apresento-me como um desafio ao nível da rotulagem padrão que cada um tem. E, felizmente, convivo com amigos e conhecidos que, tal como eu, tiveram a sorte de ter pais e familiares que lhes incutiram valores e lhes passaram uma educação suficientemente positivos para verem e estarem comigo e com os outros por aquilo que eles são e não por um pormenor físico, racial ou material.
Posto isto, vou fazer as malas porque agora é que o meu entusiasmo está ao rubro.
Está quase, quase, quase…
*Nem me tomem por estúpida que só o sou quando quero