Quanto do que já vivemos pode influenciar o que fazemos? Muito, pouco, nada?
Percebo pelo que experiencio que há sempre uma influência do passado naquilo que fazemos. Acabamos sempre por fazer comparações em situações que nos parecem familiares com outras passadas.
Aliás somos educados, vão nos ensinando e vamos aprendendo a fazer ou deixar de fazer isso, aquilo e aqueloutro, porque leva a que aconteça determinada consequência que poderá ser nefasta ou trazer-nos algo de positivo. Optamos por fazer ou deixar de fazer determinadas coisas muitas vezes porque nos dizem que já aconteceu algo a outro, porque já o fizemos noutra ocasião e deu em algo que nos surpreendeu ou simplesmente porque é / não é assim que se faz.
Quando o resultado das nossas acções é positivo somos exultados, venerados e até invejados. Quando, pelo contrário, o resultado não é agradável somos desprezados, criticados e até apontados como sendo aquele que nunca aprende.
Em qualquer dos casos tornamo-nos exemplos: do que fazer e do que não fazer.
Senso comum, sentido prático, inteligência, aprendizagem, todos pensam e alguns dizem e sempre em tom dogmático.
Contudo pelo que oiço e pelo que vejo, a aceitação da influência do passado no que fazemos não é tão linear, principalmente quando o que vemos os outros fazer vai contra o que consideramos ‘aceitável’. E no ‘aceitável’ não entram os actos considerados anormais, simplesmente pontos de vista diferentes ou comportamentos desviantes do socialmente praticado.
Nestes casos, normalmente, surgem de imediato vozes de discórdia que dizem que o passado, aquilo que vivemos, que aprendemos e que nos ensinaram, não nos define como pessoa e não pode ser desculpa para o que fazemos agora. Que podemos ser ‘melhores’ do que aquilo que somos, pois conseguimos tirar sempre algo de positivo mesmo do negativo, mais não seja o que não fazer.
Sim há algo de certo nisso, claro que há. Principalmente, se estivermos a usar o passado como desculpa para minimizar o que fazemos e desresponsabilizar-nos das consequências.
No entanto, quando assumimos que o que fizemos foi consequência do que vivemos, que achámos esta forma de agir correcta e apeteceu-nos, assumindo e aceitando as consequências que dai advêm, não é válida esta argumentação.
Acho que o problema maior que se coloca é que temos tendência a julgar os outros pela mesma bitola que julgamos a nós próprios e que muitas das vezes que alguém faz determinada coisa ou age de determinada maneira que não a nossa isso constrange-nos. Muitas vezes não por ser errado, mas, pura e simplesmente, porque não conseguimos e não fazemos o mesmo, muito mais, por medo do que os outros vão pensar de nós, por medo de sermos ostracizados e apontados, pois não está dentro do parâmetro da normalidade social, do que propriamente por ser errado.
E também porque mais vale gozar / julgar / criticar os outros do que vir a ser gozado / julgado / criticado.
Eu continuo a achar que a partir do momento que deixarmos de ver os outros com os nossos olhos, que conseguirmos realmente colocar-nos no seu lugar, aí sim vamos aprender a desfrutar e a aceitar a diferença e, claro está, vamos deixar de desiludir-nos com os outros. Pois deixamos de os ver à nossa imagem e semelhança e passamos a vê-los como realmente são.
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