TI RI RU, TI RI RU.
Acabei de receber uma sms. Após ter chegado do trabalho, o telemóvel foi atirado algures para o meio da desordem que caracteriza o meu quarto e apesar de o ouvir, não o vejo. A preguiça impede-me de procurá-lo de imediato e, mais ainda, de ver quem acaba de me 'mensajar'. Se for algo de urgente ligam-me, pensei. E continuei a fazer o que tinha sido interrompido, nada.
Sou perita a fazer nada. Sou perita a chegar a casa, a atirar as chaves, o telemóvel, o casaco e a mala para o primeiro canto que me salta à vista e a sentar-me calmamente no sofá, que ocupa quase metade do espaço livre do meu quarto, a olhar para o ontem. Nada me prende o olhar, nada me prende o pensamento. É pura abstracção do real.
Perco-me por um tempo indeterminável e quase interminável. Quando termino este afazer nem olho para o relógio para ver se o tempo que passou foi muito ou pouco. Aliás, o tempo é simplesmente um acessório, o que é relevante é fazer nada.
Com a mesma velocidade com que me sento levanto-me, procurando o indispensável para o banho relaxante. Pelo caminho vou libertando o meu corpo das roupas que relembram que houve um dia de trabalho. Chego à casa de banho e, enquanto aguardo que a água escalde, lembro-me que me esqueci de algo. Acontece sempre deixar algo para trás.
Regresso ao quarto e enquanto procuro o algo que já não recordo, encontro o telemóvel. No visor lê-se: RECEBIDA 1 MENSAGEM.
Ainda penso se vale a pena saber o seu conteúdo. Deixo-me de preguiças e leio: APETECES-ME. Não é preciso mais para ver o meu rosto sorrir e sentir o desejo aflorar no meu corpo. Tomo o meu banho e no final troco o pijama de seda pela peça de roupa que me surge mais à mão. Visto o casaco, calço os sapatos, procuro as chaves da casa e do carro, pego no telemóvel e desço as escadas a correr.
Em poucos minutos estou à tua porta. E antes de sair do carro envio-te uma sms: APETEÇO-TE COMO?
TI RI RU, TI RI RU.
AO NATURAL, respondes, acrescentando, de imediato: AINDA DEMORAS MUITO?
Gosto de te fazer esperar, aguçar o teu desejo, fazer crescer a tua expectativa. Será que vem, será que não vem? Em resposta digo: ISTO ESTÁ COMPLICADO, SÓ AGORA VOU SAIR DO TRABALHO NÃO DEMORO MENOS DO QUE 30 MIN.
TI RI RU, TI RI RU.
VEM RÁPIDO ESTOU CHEIO DE IDEIAS. Não respondo, olho para o espelho retrovisor e ajeito o cabelo. Guardo o telemóvel na mala, abro a porta, saio e tranco o carro. Ainda paro em frente ao vidro espelhado do prédio ao lado e contemplo o meu reflexo.
Aproveito que um vizinho está de saída e seguro a porta antes de fechar. Subo os três lances de escada e troco o tocar da campainha pelo bater à porta. Do lado de dentro oiço passos e num tom mal abafado de desagrado: MAS QUEM SERÁ A ESTA HORA? Abres a porta sem ver quem surge e isso é o que menos te preocupa. O QUE QUER?, lanças num tom pouco cordial.
De costas para não me veres digo apenas: APETECES-ME...
Escrito, dito e feito dessa forma é humanamente impossível resistir... :)
ResponderEliminarAssim apetece :)
Ena, fabuloso.
ResponderEliminarDe quando em vez ainda consigo desencantar alguma inspiração e escrever alguma coisa minimamente consistente. E nesses dias apetece :)
ResponderEliminarA-D-O-R-O. Assim mesmo. Tal e qual. ;-)
ResponderEliminarBeijo doce