terça-feira, 3 de agosto de 2010

Li Por Aí...


Amamo-nos como dois fósforos. Não falamos, inflamamo-nos. Não nos beijamos, incendiamo-nos; o meu corpo transformou-se num tremor de terra de um metro e sessenta de altura. O meu coração evade-se do invólucro-prisão, foge pelas artérias, instala-se por baixo do crânio para se transformar em cérebro, instala-se em cada músculo, chega-me às pontas dos dedos. Um sol feroz que me invade o corpo. Uma doença cor-de-rosa com reflexos vermelhos.

Já não posso passar sem a sua presença, sem o odor da sua pele, sem o som da sua voz, sem a sua maneira delicada de ser a rapariga mais forte e mais frágil do mundo, a sua mania de não pôr os óculos para ver o mundo através da névoa da sua visão defeituosa, a sua maneira de se proteger. Ver sem nada ver, sem se fazer notar.

Descubro a estranha mecânica do seu coração.


Mathias Malzieu, A Mecânica do Coração

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